O amor de Deus nunca está ocioso
Hoje, o Espírito Santo desceu com estrondo improviso sobre os discípulos e infundiu o seu amor nas mentes, ainda ligadas às coisas terrenas; enquanto exteriormente apareciam línguas de fogo, por dentro os corações tornaram-se ardentes porque, acolhendo a Deus que naquela aparição se manifestava, sentiram a força e a suavidade do amor. Com efeito, o próprio Espírito Santo é amor. Por isso João diz: "Deus é amor". Quem, portanto, deseja a Deus com toda a sua alma, em verdade já possui Aquele que é objecto do seu amor. Porque ninguém poderia amar a Deus sem possuir a realidade divina à qual, precisamente, o seu amor se dirige. [...]
Meditai, irmãos caríssimos, na grandeza desta solenidade em que se celebra a vinda de Deus como hóspede da alma. Se um amigo rico e muito poderoso viesse à vossa casa, certamente que esta seria limpa com o máximo cuidado para eliminar tudo o que pudesse ofender o olhar do amigo que vem. Cancele, pois, toda a mancha da iniquidade quem prepara para Deus uma morada no seu próprio coração. [...]
Reentrai por isso em vós próprios, irmãos caríssimos, e verificai se amais mesmo a Deus. E, se não encontrardes correspondência no testemunho das obras, não acrediteis no que o ânimo vos sugere. Devemos examinar, em torno da caridade para com Deus, as palavras, os pensamentos e a vida. O amor de Deus nunca está ocioso: quando existe realiza grandes coisas e se recusa traduzir-se em obras então é porque, na verdade, não é amor.
(S. Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, II 30, 1.2)